segunda-feira, 26 de outubro de 2015

ENEM 2015 - Parabéns aos envolvidos.

É na faculdade que uma pessoa mais aprende a viver do que uma profissão propriamente dita. Muitas vezes é durante o tempo de curso, morando sozinha, que a pessoa enfrenta suas primeiras adversidades. Sente na pele o que é acabar o dinheiro no dia 15 do mês, anda a pé, aprende que Miojo é seu melhor amigo e que a louça suja é seu pior inimigo, entre outras situações que provavelmente ela passará na vida após a faculdade. Pode ser lá também que ela encara o mundo e vê que as pessoas não são iguais, que não amam iguais, não rezam pros mesmos seres divinos, que tem mais ou menos melanina na pele e que somente o suado dinheiro dos pais não é suficiente pra bancar os estudos.

Até então não há curso ou algo parecido que prepare essa pessoa para o verdadeiro aprendizado da faculdade. Se não foi educada ao longo da vida pelos pais que o mundo é assim, com fulanos e cicranos, a faculdade será um grande calvário, já que as cotas sociais e raciais estão aí, queira ou não.

E se o intuito máximo da faculdade não é o aprendizado acadêmico, cai por terra o assombroso e arcaico vestibular. Decorar que o ácido sulfúrico é H2SO4 e saber diferença entre mitose e meiose apenas por saber já não faz tanto sentido, já que, a não ser que o indivíduo seja um químico, biólogo ou algo do gênero, você nunca vai usar isso na prática.

Eis que surge o maior sistema de ingresso ao ensino superior do ocidente: O ENEM 2015. Com questões envolvendo textos sobre a luta feminista, letra de canção afrodescendente, charge de Ziraldo entre outros tópicos que serão discutidos até as Olimpíadas. Mas qual o problema em ser discutido? Se o mundo fosse um arco-íris com o Brasil no fim dele com o pote de ouro, discutir seria inútil, mas há problemas envolvendo a intolerância e eles devem ser discutidos antes por todos antes dos pobres pré-universitários entrarem “crus” na vida acadêmica.

Várias fotos de provas rasuradas circulam pelo Facebook e Twitter. Provas quais o candidato se recusa a responder questão com letra do Pixinguinha, pois, segundo ele, é “macumba”, ou outra que a ignorância não deixa o candidato ler o texto de Simone de Beauvoir além de “ninguém nasce mulher”. O tema da redação é cirúrgico, atual e tem valor altamente social.  Embora a redação avalie apenas o domínio da língua e do assunto em questão, a qual deixa de lado a questão filosófico/social, a discussão gerada em torno do tema da violência contra a mulher é novamente levantada e é isso o grande papel que o ensino deve exercer.


O ENEM 2015 foi, como nunca, um modo de mostrar que a adversidade de gêneros, credos e cores é uma realidade. Quem não está pronto a tolerar isso, quem é contra a discussão do direito da mulher e quem enxerga o mundo como um senhor feudal não está pronto a ingressar numa faculdade onde quem paga são os trilhões de reais arrecadados em impostos por todos os negros, mulheres, umbandistas...