terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Obrigado, meu Gordo e Velho Sol


A última vez que olhei ao relógio no dia 14 de dezembro de 2015 foi às 19:55. Aquela súbita animação e ansiedade minutos antes de estar prestes a ver seu ídolo entrar em palco poucos artistas conseguem proporcionar, pois são raros os pontuais. Mas Gilmour é um legítimo britânico e sua polidez de um bom cavalheiro não deixa ninguém ficar esperando. E eu sabia disso, 5 minutos antes da hora marcada.

Gilmour e sua 'Black Strat' fizeram o público delirar a cada solo (Foto: Giuliano Gomes/PR Press)

A noite nem havia começado, o calor ainda era intenso, e o "Gordo e Velho Sol" já estava no palco pra fazer mais de 20 mil pessoas entediadas gritarem com as mãos (e celulares) pra cima. Uma dos maiores guitarristas de todos os tempos, vestido como sempre, calça jeans e camiseta preta, começa um espetáculo que dificilmente se repetirá no Brasil.

Ao longo do show, Gilmour alternou entre clássicos do Pink Floyd e músicas de sua autoria. A voz do Pink Floyd  já havia tocado duas vezes no Brasil. Quem conhece britânicos sabem que, além de pontuais, eles não são de fazer grandes surpresas em relação setlists ao vivo.

Sem surpresas, assim como em São Paulo, começou com as 3 primeiras músicas do novo disco solo que dá nome a turnê: Rattle That Lock. É compreensível que as músicas de seu trabalho solo não empolguem tanto o público em geral, que talvez nem tenha ouvido o disco que saiu em setembro deste ano ou On Island, de 2007.





Já quem ouviu o excelente álbum algumas (dezenas de) vezes, como eu, cantaram a faixa título do mais recente aos berros, ou tenha ficado com o coração na boca perante Faces The Stone. Já as clássicas, essas sim fizeram a multidão gritar em coro. Wish You Were Here foi a primeira a ser entoada pela Pedreira Paulo Leminsk a ponto de arrepiar o mais frio dos mortais. Algumas do maior clássico da banda: Dark Side of The Moon, Shine On You Crazy Diamond e outras do Division Bell também fizeram muitos acordarem roucos no dia seguinte.

E, quando achava que sabia de cor as músicas daquela noite, Gilmour começa o riff de uma das minhas favoritas e que não havia reparado que também foi tocada em São Paulo. O Gordo e Velho Sol encheu meus olhos de lágrimas ao tocar Fat Old Sun (por ter essa música entre as minhas favoritas que chamo Gilmour de Gordo e Velho Sol). A virada entre a balada e a pegada dessa música era o ápice da noite pra mim. Da época mais psicodélica do Floyd, Gilmour também tocou Astronomy Domine.

David demorou 69 anos pra vir ao Brasil. Mesmo vendo o sucesso de turnês de seu antigo companheiro de Pink Floyd por aqui, por qualquer motivo que seja, nunca fez muita questão de descer ao sul da América. E acredito que não mais voltará. Se voltar, com idade bem mais avançada, também não creio que fará um show da forma como foi. A turnâ Rattle That Lock pode ser uma das últimas chances de ver uma das maiores lendas da música. Tal qual Paul McCarrney, Roger Waters, Bob Dylan, David Bowie e outros que, ainda bem, insistem em não se aposentar, um show não é só um show. É sentir cada acorde de sua poderosa guitarra tremer os ossos e arrepiar sua pele. Ver aquele velho e simpático guitarrista no palco é presenciar a história viva. História que, no dia 14/12/2015, eu presenciei.

Ps. Um grande "vai tomar no cu" pra quem levante o celular pra cima pra filmar shows.
Além de ser grande imbecilidade de pagar R$ 600,00 pra ver o show numa tela, é uma falta de respeito com quem está atrás e não consegue ver por que o celular está tapando a visão.