domingo, 16 de maio de 2010

Sessão Cult - Barry Lyndon – Uma pintura em movimento

Dentro de 1 ano eu pensava ter assistido o essencial da filmografia do meu diretor de cinema favorito, Stanley Kubrick. Laranja Mecânica, Dr. Fantástico, O Iluminado e 2001: Uma Odisséia no Espaço. Assisti também outros grandes longas assinados por ele, Nascido para Matar, de Olhos bem Fechados e Glórias Feitas de Sangue. Dentre os que faltam, apenas 3 eu ainda pretendia assistir. Lolita, Spartacus e Barry Lyndon.

Hoje criei ânimo e resolvi assistir o gigantesco Barry Lyndon sem muitas pretensões de inseri-lo no meu rol dos favoritos de Stanley. Pois pelo que li em sites especializados e fóruns, o filme é considerado uma obra prima sim, mas apenas para quem estuda cinema, devido a sua magnífica fotografia, iluminação única e enquadramento “a la Kubrick”, porém com um enredo maçante e história forçadamente “arrastada”. Bom, nada pode ser mais arrastado que 2001: Uma Odisséia no Espaço e isso não encaro muito como defeito.

Se especialistas ou cinéfilos impõem que o visual de Barry Lyndon é perfeito, ninguém em sã consciência poderia discordar. O longa é uma (mais uma) revolução do cinema. Para começar, toda a iluminação foi feita apenas com luz natural do sol, e para as cenas noturnas ou ambientes fechados, era feita à luz de velas. E para isso, usou de uma câmera especialmente projetada para esse tipo de ambiente. Já não bastasse toda essa preocupação, todo o figurino foi feito com roupas verdadeiras, todas feitas na segunda metade do século XVI. Tudo para que, no final, o espectador tenha uma visão perfeitamente real do que se passava na época. A fotografia e enquadramentos se dão como em todos os filmes de Kubrick, com um toque único.

Analisando a forma de arquitetar o visual de Barry Lyndon, nós, brasileiros, podemos comparar com o modo de criação dos poemas parnasianos (apesar de ter nascido na França, teve maior evidência por aqui) do início do século XX. Assim como Kubrick visa tem por objetivo a perfeição fotográfica, os escritores buscam sempre a perfeição nas formas, montando sempre o poema e suas rimas como um ouvires molda uma jóia. Porém as comparações com parnasianismo devem parar mesmo na sua forma visual. A “arte pela arte” do estilo literário o faz visar apenas as formas, pondo de lado o conteúdo. Isso não acontece em Barry Lyndon. O enredo e histórias podem ser considerados maçantes, mas apenas para aqueles não familiarizados com o tipo de obra que Stanley proporciona. O filme é repleto de detalhes, onde ninguém fez questão de acelerar o passo para que ele termine rapidamente. Detalhes que podem ser comparados a pinceladas em um quadro de auto-retrato, onde cada traço tem seu propósito de existir, e se não existisse, sentiríamos que está faltando algo. Como os traços em uma pintura, os sorrisos, os olhares, os silêncios, os passos, sons, conseguem ilustrar perfeitamente o clima da aristocracia da Grã-Bretanha. O que Barry Lyndon finalmente nos passa é uma sensação de que vemos realmente um belíssimo quadro em movimento. Uma pintura com traços de Caravaggio, conteúdo de Picasso e um surrealismo de Salvador Dali.

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