Quem mora em cidade pequena sabe bem o que significa dizer “se torcer o jornal sai sangue”. Em cidades assim, não é muito fácil achar um acontecimento para ser estampado em uma manchete que fará esgotar o jornal nas bancas. Portanto a alternativa é apelar para acidentes, tragédias e crimes. Os grandes veículos, assim como professores de comunicação desdenham esse tipo de jornalismo (se é que se pode chamar isso de jornalismo) que pauta a tragédia nua e crua explorando o lado sádico do ser humano em ter curiosidade em desastres.
Mas, e se isso não estiver fadado apenas a jornalecos de fundo de quintal? Não está.
Hoje já faz dois dias que não leio um jornal, que não entro no UOL, Terra, G1 ou qualquer portal de notícias e que não assisto TV. Exatamente dois dias depois da tragédia da escola do Rio de Janeiro. Coincidência? Longe disso.
Nos portais de notícias, o que pulam às vistas são fotos e notícias de parentes das vítimas em desespero nos funerais. Na última vez que assisti um telejornal, vi um depoimento de uma criança contando como o assassino executava as pobres crianças com detalhes aterrorizantes, seguido de vários relatos de pais sobre como eram seus filhos, suas rotinas, seus sonhos e o doloroso ponto final em suas breves vidas. São coisas extremamente desnecessárias, como fotos e notícias de parentes passando mal, jornalistas imorais quase entrando nas ambulâncias, relato de crianças que, além de não acrescentar nada a ninguém, empobrece o jornalismo brasileiro.
Obviamente se trata de uma tragédia sem precedentes no país, mas como o jornalismo brasileiro trata não só esse, mas qualquer assunto chocante é nojento e covarde. Tudo é transformado em novela explorando ao máximo os sentimentos de pena e compaixão (levemente mais aflorado em brasileiros) a ponto de bitolar o espectador a um dramalhão mexicano da vida real. Se continuarmos assim, o Jornal Nacional passará se chamar novela das 8:15.
Fica aqui o tweet do meu amigo Nilto postado em seu twitter (@niltojunio)
“abutres munidos de filmadoras e microfones rondam as famílias das crianças mortas, ganha mais quem filmar dentro do caixão”
Um comentário:
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