Continuando a saga que ilustra a relação entre cliente e criador, seja qual área for. Arte gráfica, redação, audiovisual...
Um dos grandes problemas do senso-comum na crítica (olha que fui bonzinho na escolha desse termo) de um trabalho de criação é o frenético almejo em rebuscar o que deveria ser simples, direto e funcional. Por fim, o que deveria funcionar de forma clara para o consumidor, se mostra ineficiente e o dinheiro gasto foi pelo ralo.
A história da arte revela uma ligação íntima em relação à história do mundo em geral. De certa forma, as rupturas vivenciadas na sociedade, economia, filosofia e política refletiam diretamente no modo dos artistas pensarem e, consequentemente, criarem.
Voltemos ao século XVIII, ao neoclássico ou arcadismo. As características do arcadismo são justamente todo meu sentimento ao exagero que meus clientes tanto gostam. Era simples, direto e de fácil assimilação por todos. De modo como a sociedade relutava contra os exageros do Clero, os artistas se saturavam de todo o excesso do Barroco, escola artística dominante.
E se eu fosse um poeta do arcadismo no século XVIII?
"Mas só isso mesmo?"
"Não precisa mais que isso"
"Mas tá muito simples, você podia incrementar mais."
"Mas pra quem você quer que veja isso pode se tornar muito complicado pra entender."
" Coloca mais palavras, mais rimas. Versos decassílabos..."
E a poesia que era assim:
"Na idade que eu, brincando entre os pastores,
Andava pela mão e mal andava,
Uma ninfa comigo então brincava,
Da mesma idade e bela como as flores."
(Basílio da Gama)
Ficou assim:
Como na cova tenebrosa, e escura,
A quem abriu o Original pecado,
Se o próprio Deus a mão vos tinha dado;
Podeis vós cair, ó virgem pura?
Nem Deus, que o bem das almas só procura,
De todo vendo o mundo arruinado,
Permitiria a desgraça haver entrado,
Donde havia sair nossa ventura.
Nasce a rosa de espinhos coroada
Mas se é pelos espinhos assistida,
Não é pelos espinhos magoada.
Bela Rosa, ó virgem esclarecida!
Se entre a culpa se vê, fostes criada,
Pela culpa não fostes ofendida.
(Gregório de Matos)
Tudo isso poderia ser resumido a uma só frase: "Menos é mais". Menos exagero, menos palavras, menos cores, menos efeitos, menos fontes, menos rimas. Menos isso tudo só ajuda na comunicação com o consumidor. O simples não é sempre simplório e, como dizia nosso amigo Mogli: "Necessário, somente o necessário. O extraordinário é de mais."
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